31 dezembro 2011

Sobre bolinhos de limão, etc...


No final do ano é sempre assim... ele me dá agonia, pessoas “loucas” nos shoppings, no centro da cidade apressadas e comprando, no trânsito a mesma coisa, motoristas “loucos” apressados e buzinando, todo mundo no corre corre porque precisa  comprar e organizar tudo para o natal e ano novo. Outra coisa também são as inúmeras frases e mensagens sobre os sonhos e as expectativas para o ano novo, o compartilhamento da esperança de um recomeço, o  final do ano também é a época que se faz o balanço do que aconteceu na vida (as retrospectivas) e fazer planos, traçar metas, pensar:  o que foi bom? O que foi ruim? Eu preciso melhorar no quê? Para ter o que eu quero, preciso fazer o quê?  A medida que se renovam as esperanças e expectativas, vão se colocando pás de cal no ano que está acabando, é como se fosse algo do tipo:  vamos enterrar logo esse desgraçado, o que ele quer aqui ainda?

 
Mas, o que será mais importante no meio dessa loucura e entre tantas expectativas?


Por vezes ficamos perdidos, cansados ou com medo ao longo do tempo no meio de tanta correria. Passamos nossa vida contando dias, meses e anos como se essas marcações de tempo fossem as mais importantes, quando na verdade a vida está acontecendo agora  e as melhores coisas na maioria das vezes se tornam triviais, como um abraço amoroso, um bolinho de limão com um laço de fita vermelha, uma oferta de conforto, uma gargalhada da bobagem de um amigo, os primeiros acordes das músicas que você gosta, as nuances de um perfume bom pela rua, um céu alaranjado, lençóis macios, um pedido de desculpas ou o sorriso de um desconhecido quando você diz simplesmente bom dia. A vida é feita de momentos, se mantenha atento, a felicidade é sutil.

   
Você tem todo dia um dia novo e não um ano inteiro, o passado não importa e o futuro não existe... aprende, a vida é agora.

Feliz tododia 2012




Nara Caroline

27 novembro 2011

Sensações sonoras.

Minha flor, meu bebê.

Sem pedir licença, nem bater na porta. Assim nos são os sons. Não pedem para entrar, eles simplesmente nos invadem. Ousados não? Aperte o play e experimente tampar os ouvidos... Garanto que não é o mesmo que fechar os olhos quando não se quer ver. Ainda que de ouvidos tampados, escuta-se algo. Eles são tão decididos! Não têm hora para chegar – a menos que venham do despertador – e nem escolhem ocasiões. Ou será que escolhem? Alguns tons caem tão perfeitamente bem a certas situações que chego a imaginar que deve existir um DJ, ou melhor, um grande maestro regendo a orquestra de cada um de nós.

Deve existir sim uma ponte entre os sons e as sensações. Uma ponte feita pelas experiências individuais vividas. Como não associar determinado som à lembrança de um momento ou pessoa marcante? Como apenas escutar e não sentir a música? Ao passar pelos tímpanos, o som, como um estímulo sensorial que é, deve fazer alguma conexão nas emoções do sistema límbico para só então desembarcar na memória do córtex cerebral. Só pode.

Odeio o som do meu despertador. E é um sentimento tão forte que ao primeiro toque, antes mesmo que os meus olhos se abram, as minhas mãos se movem rapidamente pelo criado-mudo, derrubando o que estiver pela frente, numa busca desesperada pelo botão de desligar. Tocar mais que três segundos me traz uma tristeza e irritação profunda. Não sei como as pessoas conseguem usar tanto a função “soneca”. Se eu acordar cedo e de muito mau humor, pode ter certeza que eu demorei a achar o despertador nesse dia. Colocar uma boa música para despertar-me seria um desastre. Toda vez que a ouvisse casualmente, associaria à sensação péssima do despertador.

Adoro o som das minhas mensagens de texto. Sou capaz de reconhecer os toques que já usei e associá-los às pessoas remetentes mais frequentes da ocasião. Ouvi-los é permitir ser invadido pela sensação incrivelmente boa que acompanha o som de que alguém está pensando em você naquele exato momento – por favor, só não lembre a desilusão que é “ser lembrado” pela sua operadora telefônica. Mas, o fato é que ninguém permanece trocando mensagens com quem não gosta. Ninguém se permite associar um som que provoca boas sensações com alguém não igualmente bom. Não deveria, pelo menos.

Tocando em frente me lembra das manhãs em que meu pai me acordava ao som do violão. Talvez, até a própria escolha dos estilos musicais preferidos deva sofrer alguma influência direta dessa ponte sensorial feita pelas experiências anteriormente vividas. O que me faz gostar de um som e você de outro? A música provoca sensações variadas e não há de ser o acaso a determinar se alguém vai ser meio sertanejo, bossa nova ou rock’n’roll. Cada um faz o seu próprio show e escolhe o repertório pelo felling. Amizades e romances têm trilha sonora. Decepções também têm. E há quem queira se afundar ainda mais na fossa de uma separação ouvindo sem parar a música do primeiro encontro... Dá pra acreditar? Pelo amor de Deus, coloca um funk e pronto.

Os passos dançam conforme a música da vida que cada um sente. Vai ficar sentado, ouvindo a música tocar e vendo a vida passar? Pede o tom. Entra no ritmo que te embala. Permita-se ouvir, sentir, dançar. Não se esqueça de viver o seu musical.

04 outubro 2011

Uma questão de decisão.





Imparcialidades ou ficar em cima do muro nunca foi o meu forte. Gosto de pessoas de opinião, de pessoas decididas. Que mania chata de algumas pessoas insistirem em viver no outono! Isso em nada me atrai. Talvez, por eu ser do nordeste e só estar acostumada com duas estações do ano: calor ou chuva. Chega a ser um grande defeito – meu, é claro - especialmente em ocasiões alheias. Não consigo não tomar partido, não ter um lado, não defender o que acho justo. Não ter uma opinião, ainda que não explícita, ainda que contrária, me inquieta.

Apesar de parecer ter algum estereótipo para participar de reality shows, - já repararam a quantidade de dentistas que têm passaporte fácil para esses programas? – a minha participação estaria ameaçada na primeira discussão grupal. Ia comprar fácil a briga dos outros, vê se pode? Lá se vai a minha chance de ser famosa, ser uma grande artista, gravar comercial e ser capa de revista...

Acho que o Veríssimo foi bastante feliz ao dizer: “Ainda pior que a convicção do não e a incerteza do talvez é a desilusão de um quase. – E tenho para mim que o talvez e o quase estão em uma escala de incômodo bem próximos – (...) Se a virtude estivesse mesmo no meio termo, o mar não teria ondas, os dias seriam nublados e o arco-íris em tons de cinza”. Até a própria Indecisão sempre me pareceu ter uma definição bastante decidida, muito bem resolvida: “Quando você sabe muito bem o que quer, mas acha que deveria querer outra coisa”. (Adriana Falcão)

Para quem sempre calculou passos, pesou escolhas e planejou detalhes, estar sem ideias definidas ou sem planos claros é desconcertante. É como se tivesse um degrau falso na escada, uma placa errada na estrada. Decidiu-se tudo com tanta vontade em dar certo e, de repente... “É, Joseph Climber, a vida é mesmo uma caixinha de surpresas!”  E tudo muda de lugar. Retorna-se ao ponto de partida. À estaca sem decisões, sem opiniões, sem planos. Isso até lembrar, providencialmente, como um estalo divino de trazer à memória aquilo que nos dá esperança: “Não andeis ansiosos quanto ao dia de amanhã, pois o dia de amanhã cuidará de si mesmo.” (Mt. 6:34)

E ai percebe que o caminho pode não ser em linha reta, mas está muito bem traçado por quem entende bem desses assuntos futuros. E que tudo tem seu tempo determinado e que nem sempre o tempo que se planejou é o mais apropriado. É confiar firmemente que certas coisas acontecem porque definitivamente precisavam acontecer. E, ainda que num primeiro momento pareça que não, isso era o melhor que poderia ser porque os planos de Deus são perfeitos. E que, para coisas maiores chegarem, é preciso se desfazer de coisas pequenas. É aprender a recomeçar. É levantar a bandeira do firme fundamento das coisas que se esperam e da prova das coisas que não se veem.

E, finalmente, entende que para controlar as ansiedades, é preciso decidir... Decidir pela paciência. E quando, pacientemente, lançar fora sobre Ele todas as ansiedades, abre-se um mar de promessas (leia-se: um mar de oportunidades). Consegue, então, ver que esse mar está melhor do que nunca para surfar, o dia bem ensolarado para uma boa praia e o arco-íris tem sete cores bem vivas, bem distintas. E quando menos esperar, encontra o pote de tesouros que fica depois dele.

.
.
.
E agora?! Alguém ai me ensina a surfar? =x

28 setembro 2011

Água ou Calor?

De Alphaville. Por Emmerson Nogueira.


“(...) Some are like water.
Some are like the heat...”

Já reparou nessa música? Faz-me pensar, entre tantas outras coisas, sobre a água, sobre o calor, sobre as pessoas.

A água lava, dissolve, sacia, refresca.

Pode ser uma garoa. Chega devagar, leve, contínua. É até convidativa, parece não oferecer perigo. Deixa a sensação de poder ser encarada sem pressa, sem maiores riscos. Às vezes, não se consegue vê-la. Talvez um rastro de luz consiga revelar os pingos finos, pequenos, aparentemente inofensivos. Mas, se realmente estiver nela, não se engane. Sempre irá senti-la, ainda que se permaneça por pouco tempo. E, de repente, pode se transformar num temporal. É uma enchente. Inunda tudo, inclusive você. Tão forte que pode intimidar, desestabilizar. Exige coragem. No máximo, pensa-se em passar por ela bem rápido, correndo. Muito embora, a física garanta que isso só irá molhar ainda mais. A gente vê, a gente sente. Quer matar a sede. E deixar-se molhar. E permitir-se beber. De fora para dentro. Provoca arrepios. Faz tremer.

O calor? O calor seca, aquece, irradia, derrete, ferve.

Condensa o ar, protege do frio, quebra o gelo. Pode ser suave como os primeiros raios de sol que nasce numa manhã fria. Esquenta o corpo. Acorda a alma. Um dia quente incomoda. Uma noite quente... nem tanto assim. É transferível. Dois corpos em equilíbrio apresentam a mesma quantidade de calor. Algumas horinhas a mais, já não é tão agradável. Torna-se intenso, a ponto de nos fazer suar, de queimar. Deixa marcas. É o suor de dentro para fora.

Tento, sem grandes sucessos. Não consigo me identificar com apenas um. Diga-me se consegue? Num instante, pode-se estar frágil como uma garoa. Logo em seguida, estar forte como um temporal. Pode aquecer. E pode queimar. Pode beber da água e depois transformá-la em suor. Receber um balde de água fria e depois trocar calor. Chover e aquecer.

Por que ser? Ser parece tão estável, tão previsível. Se assim fosse, penso que os relacionamentos intra e interpessoais seriam mais fáceis. Ainda bem que o verbo To Be permite a tradução Estar. Estar água e estar calor. Inundar-se e secar ao sol. Só pra molhar novamente. E recomeçar o ciclo natural da água, caminhar pelo ciclo natural da vida e não deixar de estar forever young.

23 agosto 2011

Íntimos e Desconhecidos.




Brincar com as palavras é fantástico. Não é incrível poder atribuir significados bem diferentes quando apenas trocamos a ordem delas? Lembro - com certo ar de repúdio, confesso – que já me chamaram de Falsa Magra. Quanta ousadia! E, sem maiores discussões e detalhes, devo concordar que pior seria se tivesse ouvido uma Magra Falsa.

Tal como, um Desconhecido Íntimo é bem diferente de um Íntimo Desconhecido. Sabe aquela pessoa que você sempre encontra na fila do supermercado, do banco, do shopping? Cruza no estacionamento, na balada, no restaurante preferido (seu e dela, provavelmente). Você sabe que ela adora filmes e estuda Artes. Pode até arriscar alguns dos seus músicos preferidos e outros gostos, mas nunca falou com ela. Nem uma conversa de olhares, nem um papo jogado fora. Nada. Pois bem, ela é a sua legítima Desconhecida Íntima. Muito embora não a conheça, você sabe inúmeras informações cotidianas sobre ela e sente-se bastante próximo.

Estranha-me a ideia – além de ter que escrever a palavra ideia sem acento, claro! – de que alguém, de algum lugar, de alguma geração, leia-me. A princípio, já não seria de se estranhar bastante tantos pronomes indefinidos assim? Alguém, algum, alguma. Sim, as indefinições e os sujeitos indeterminados sempre me soaram enigmáticos demais.

Assim me são os leitores anônimos: Íntimos Desconhecidos (em ordem inversa, agora). Aqueles que leem – essa nova norma gramatical! – todos os textos, linhas e até as entrelinhas. Aqueles que eu posso até conhecer bem, mas não chego a imaginar que são tão íntimos das minhas letras. Ou os de vista e até os que eu nem conheço... e nem me dão a chance de conhecer. Sim, vocês, que sempre dão atenção às minhas palavras, por mais in-sensatas que sejam, mas não me deixam nenhum rastro dos seus pensamentos, frases e gostos.

Não dava pra ser famosa, é fato. Estranho a ideia de que um desconhecido seja tão íntimo assim dos meus pensamentos. Sou um blefe. Daqueles mais sem-vergonha. Como a aposta alta de fichas em uma dupla de dois contra um Royal Straight Flush. Um coelho nascido e criado dentro da cartola. Uma pá furada.

Uma Desconhecida Íntima, uma íntima ou apenas conhecida de vocês na tentativa ínfima de trocar figurinhas, bater pensamentos pra lá e pra cá, jogar peteca de palavras. De incomodar, quem sabe até, irritar. Diria sensibilizar, se não soasse dramático demais. Tudo em troca de uma réplica, de uma palavrinha sequer arrancada pelo vento, que dê corda à dança das minhas bobagens, que tire as minhas frases de um monólogo sem fim.

Nem que seja como um sujeito oculto. Totalmente implícito, leitor, em um codinome beija-flor.

15 agosto 2011

As gangorras.



Penso na minha infância mais do que de costume. Adorava parquinhos. Aqueles que tinham casinha na árvore, roda-roda, escorregador. Estava pra nascer alguém que chegasse mais alto do que eu no balanço. A gangorra, embora não fosse o meu preferido, era um local bem divertido para se fazer amizade com quem sentava na outra ponta. É impressionante a facilidade com que as crianças têm de se relacionar. Mas, apenas compreendi o importante papel das gangorras nos relacionamentos quando não mais brincava em parques.

Certo dia, meu pai – o biológico, querido leitor – me disse que os relacionamentos funcionam como as gangorras. Que engraçado! Na época, eu era bem experiente com as gangorras, mas quase nada com os relacionamentos. Sabia bem que não dava para brincar na gangorra sozinha... E foi assim que ele começou: Relacionar-se exige, além de você, mais uma pessoa, cada uma sentada em uma ponta.

Estar na ponta mais alta é encantador. As pernas, balançando sem alcançar o chão, dão a sensação de liberdade, de leveza. O vento parece chegar mais fácil no seu rosto. Os problemas parecem não te alcançar. É bastante cômodo. Afinal, o esforço não está do seu lado. A você, cabe apenas aproveitar o momento. Relaxar. Apreciar. Desse lado, você enxerga tudo de cima. A paisagem, a vida, as pessoas. Inclusive a pessoa que está na outra ponta. Aquela com quem você está se relacionando, lembra-se? E para o seu ego chegar tão alto quanto a distância dos seus pés ao chão não é muito difícil, não falta muito. É apenas uma questão de um pouco mais de tempo nessa posição.

Estar do outro lado e colocar o outro lá em cima não é fácil. É preciso ser uma pessoa de peso, de força. É assumir toda a carga. É abrir mão do seu próprio querer em estar lá na parte mais alta em benefício do outro. É conceder, doar, valorizar. E você fica ali, embaixo, vendo tudo acima de você, inclusive a pessoa com quem está se relacionando. Vê-la tranquila e feliz, naquele momento, é recompensador. Vê-la egoísta e arrogante é decepcionante.

Os relacionamentos baseados na sobrecarga de um sempre em favor do outro tendem à queda. É como duas pessoas com pesos bem diferentes brincando na gangorra. O magrinho fica lá em cima sempre. No início, é divertido, mas não conseguir descer torna a brincadeira chata. Já o gordinho só de sentar, desce e não consegue subir. É outra tortura. Se o que está lá em cima começa a ser prepotente e a esnobar quem está lá embaixo, este sai da gangorra bem rápido, só para aquele, em vez de descer tranquilamente, cair de vez no chão.

Isso porque a graça da gangorra é oscilar a altura. Subir e descer. E, logo em seguida, descer e subir. E qualquer alteração na ordem das palavras altera o produto. Não faz bem para nenhuma das partes quando um faz tudo pelo o outro sempre. A chance de ele achar que está literalmente por cima de tudo e todos é muito grande. Assim como também é grande a chance de você se sentir menos importante. É preciso que o outro se doe também. E veja bem, não se engane achando que, então, o ideal é o equilíbrio entre os dois, entre as pontas. Já se viu brincar de gangorra sem subir ou descer? O equilíbrio é um relacionamento fadado ao comodismo, sem interesses mútuos. É quando um não demonstra querer bem ao outro a ponto de fazê-lo subir, enquanto você mesmo desce, e vice-versa.

As oscilações entre as pontas são divertidas e necessárias. Permanecer estático por muito tempo, independente da posição, é o real problema do jogo, das gangorras e dos relacionamentos.

09 agosto 2011

Despedidas.




Ainda pequenininha, uma frase, especificamente, intrigava-me bastante. Não muito raro, a autora da frase era a minha mãe - já devo agradecê-la pelos memoráveis exemplos cotidianos. Eu estava lá, em prantos, toda vermelhinha. Chorar sempre me deixou com o rosto bem corado por horas, mesmo depois de ter parado há um bom tempo. Quando, então, ouvia:

- Pronto! Já acabou. Agora engole o choro!

E ela falava num tom estranhamente forte e frágil. Forte para educar, frágil por duvidar. Parecia que queria me convencer de algo que nem ela mesma acreditava que era possível de se fazer.

- Engolir o choro? Como vou engolir o choro? – eu replicava entre soluços, tentando deglutir as lágrimas que descontroladamente insistiam em descer.

Para minha mãe, engolir era parar. Para mim, engolir era engolir e pronto. O meu questionamento sempre fazia a minha mãe sorrir, não sabia me explicar como se engolia o choro. Eu, por minha vez, ficava contente por tê-la deixado rindo sem respostas. Planejadamente ou não, o fato era que, consequentemente, ela me fazia parar de chorar, rindo.

Pra falar a verdade, eu sempre fui chorona. Mas, apenas experimentei a verdade daquela frase quando me deparei com as despedidas. Há sensação real mais perturbadora que a de uma despedida? Despedidas são, por si só, nostálgicas. Pensa-se em tudo que está ficando, que não foi na bagagem, que não entra na sala de embarque. Em tudo que vai deixar o gosto, deixar as fotos, deixar a memória. E pra desmoronar tudo mesmo, há sempre alguém que na hora relembra a Canção da América.

Foi ai que eu descobri que frases feitas não são apenas frases conotativamente feitas, força de expressão. Em despedidas, eu, literalmente, engulo o choro acompanhado do nó da garganta que dá quando se está partindo. Os sons não se articulam em palavras. O ar não passa junto ao engolir. E o que é deglutido parece estacionar no meio do caminho. Congestiona, comprime, estreita tudo em volta. E é exatamente ai que eu sinto denotativamente a força do aperto no peito que dá a saudade.

Então, já sabe, não se despeça de mim.

Eu não sei engolir tudo. Fica o gosto, ficam as fotos, o silêncio, a memória.

Sou uma boba. Choro em despedidas.



13 julho 2011

Doidas.


"Toda mulher é doida. Impossível não ser.
A gente nasce com um dispositivo interno que nos informa desde cedo que, sem amor, a vida não vale a pena ser vivida, e dá-lhe usar nosso poder de sedução para encontrar the big one,aquele que será inteligente, másculo, se importará com nossos sentimentos e não nos deixará na mão jamais.
Uma tarefa que dá para ocupar uma vida, não é mesmo?
Eu só conheço mulher louca.
Pense em qualquer uma que você conhece e me diga se ela não tem ao menos três dessas qualificações: exagerada, dramática, verborrágica, maníaca, fantasiosa, apaixonada, delirante. Pois então. Também é louca. E fascinante.
Nossa insanidade tem nome: chama-se Vontade de Viver até a Última Gota.
Só as cansadas é que se recusam a levantar da cadeira para ver quem está chamando lá fora.E santa, fica combinado, não existe.
Uma mulher que só reze, que tenha desistido dos prazeres da inquietude, que não deseje mais nada? Você vai concordar comigo: só se for louca de pedra."

 

Martha Medeiros 

 

18 junho 2011

Voar.


"Recém-casados, dois jovens procuraram um casal de velhinhos, de mais ou menos 80 anos, que moravam juntos em cima de um monte, bem distante, há muitos anos.
- Qual o segredo para uma união durável? - perguntaram os jovens.
- Pega uma águia macho e ela, uma águia fêmea. Quando trouxeres as águias, eu digo o segredo a vocês. - disse o velhinho.
Os jovens saíram floresta a dentro na tentativa de conseguir capturar as aves. Tempo depois, eles retornaram todos arranhados, sujos e com as águias. Subiram o monte e as entregaram para o velhinho. Este amarrou uma águia a outra e as soltou. As águias alçaram vôo juntas. Mas, só alcançavam três metros de altura. E depois, retornavam para o chão.
O velhinho, então, inteligentemente revelou: Para alçar vôos maiores, elas precisam estar soltas."

Hoje, há poucas horas, meu mestre-pai me agraciou com esse conto chinês, logo após eu afirmar o quanto eu acredito na importância da individualidade num relacionamento. Que maravilha! Ser como uma águia... - disse a ele, como quem acabara de descobrir algo.

Não penso em metades.
Metade da laranja, do limão ou meio copo de vodka. Não!
Eu sou um inteiro. E sempre quis outro inteiro.
Até porque é assim que o outro se vê também, é assim que se sente e assim que se quer viver.

Entende que o outro precisa estar junto, mas também estar só. E que juntar nem sempre é prender, na maioria das vezes, não o é. Que não se anda de mãos dadas sozinho, mas que as suas duas próprias mãos pode fazer muito mais do que se pode imaginar. E que, pra isso, é preciso desentrelaçar dedos, soltar-se, desatar-se. E então, vê que mais que duas, existem quatro mãos. E entende que ser carregada para cruzar a porta do apartamento novo é tão confortável quanto se pensa (e tão romântico também!). Mas que, portas maiores exigem alçar vôos maiores. E para chegar mais longe, é necessário caminhar com as suas próprias pernas, sem lenço e sem documento, num sol de quase dezembro. Por que não?

Não quero me ver apenas como a soma de metades.
Mas, dois em um. E também um em dois.
Quem não consegue viver bem consigo mesmo, fica ali amarrado a uma falta existente em si que só ele mesmo pode preencher. Ninguém mais. Enquanto não se auto-completar, ficará sempre em busca de metades externas que ensaiam a sua própria identidade.

Certas coisas que há em mim são inegociáveis.
E a individualidade, dessa eu não abro mão.

13 junho 2011

(500) Dias com Ela.





“... Esta é a história do garoto que conhece a garota.
Mas você deve saber que não é uma história de amor.”

Começou o verão. Summer.

Parece uma comédia romântica. Pois bem, comédia pode até ser. Romântica, não necessariamente.

Subverte papéis. Subverte regras.

Enquanto ele vive no seu mundo sem cor de produtor de cartões, ela recebe em média 18,4 olhadas por dia.

Ele se apaixona. Ela não. Não o suficiente.

Uma ótica masculina. E cá entre nós, eu gosto bastante das visões masculinas.

Ela é misteriosa, capaz de despertar amor e ódio. E que me perdoe a possível identificação vivida pelos autores em sua nota inicial... Bitch? Até eu queria ser a mera coincidência de um filme assim.

A trilha sonora é personagem do filme tão importante quanto Summer e Tom. Quelqu’un m’a dit... Que maravilha!

Narrado num tempo não linear, não cronológico, não previsível.

O amor retratado de maneira absolutamente honesta e sincera.

Expectativa x Realidade.
Indubitavelmente, uma das melhores cenas!

Mudaram as estações, algo mudou?
Chegou o outono. Autumn.

 
De Marc Webb, um filme inteligente, envolvente, nada clichê.
Recomendo. Se recomendo...

Exatamente assim.



Eu não preciso disso, sinceramente não preciso.

Não preciso falar de assuntos dos quais eu não gosto, só para ser aceita numa conversa. Não preciso rir das coisas que eu não acho a menor graça, só para parecer legal. Não preciso fazer coisas das quais eu não tenho a mínima vontade de fazer, só para não “ficar de fora”. E muito menos preciso discordar de mim mesma, só para concordar com os outros.

Não preciso e não quero.

Não quero puxar o saco de ninguém só para que gostem de mim. E não me importa se irão gostar ou não.

Sabe o que realmente me importa?
As pessoas de quem eu gosto. Essas sim me importam!

Importa que elas gostem de mim. Porque são elas quem me oferece as melhores conversas e as melhores gargalhadas. E com elas, eu não preciso abrir mão dos meus valores porque elas simplesmente sabem respeitar. Não preciso cantar ou dançar sempre a mesma música para estar em sintonia. E isso não significa que se eu iniciar a letra, elas não irão cantar junto. Garanto que vão cantar, dançar e até levantar as mãos.

Porque com elas, há cumplicidade, verdade e alegria. Com elas, eu aprendo novos valores, novas cores.

São elas quem eu admiro. E é disso que eu preciso.

Isso eu realmente preciso.

02 junho 2011

To Cookie.

"... me dê a mão, vamos sair pra ver o sol..."



 Ele poderia ter sido apenas um cara da faculdade, um cara da rodinha de amigos, um cara gente boa... desses que a gente cruza no caminho. Mas sabe?! Ele não quis... não.

 Ele preferiu ser o cara da faculdade e de toda a outra parte mais importante da vida, o melhor amigo entre os amigos, o cara indiscutivelmente gente boa que está ali, sempre, disposto a encontrar uma nova forma de me estampar o maior dos sorrisos.

 E eu? Eu preferi ser a garota dele.

Aquela que quer, antes de qualquer pensamento, vê-lo feliz, fazê-lo feliz.

 E se, dentro de toda a modestia que lhe é peculiar, ele diz que cookies são iguais a vinho sem prazo de validade: quanto mais envelhecido, melhor... Então que possamos comemorar juntos quantos anos vierem para o cookie máár lindo do mundo!


Amo. Felicidades!

27 maio 2011

À Mi.

Uma das pessoas mais lindas que eu já conheci!

Não consigo definir melhor. De uma doçura e sensibilidade ímpar. Capaz de perceber a mínima mudança nos olhos de quem vê, capaz de consolar com uma única palavra a quem a escuta. E que privilégio tem quem a escuta! Porque da sua boca sempre sai os sons mais certos articulados num tom de voz que é indiscutivelmente dela.
Conheço há um bom tempo, mas a sensação é de que sempre há algo novo, escondido e reservado para ainda ser descoberto. E há quem se perca nesse seu universo particular, simplesmente porque ainda não aprendeu a abrir as portas que a tornam ainda mais admirável.
Queria poder ter mais da serenidade dela nos meus dias, mais da força, mais da discrição, mais do sentimentalismo, do mimo. Mais do sorriso inaudível, mais dos gostos exóticos e dos ‘sabores cheirosos’... Eu queria mesmo era poder aMILENAr mais os meus dias. Porque assim, eles seriam mais bonitos, mais coloridos e um misto de sensações incríveis que só acompanham a sinestesia sem fim que ela é.
Toda felicidade e fé, desejo pra menina mulher que sabe ver o mundo do seu ângulo mais bonito! E se amizade é não fazer questão de si mesmo e emprestar-se para os outros, então eu me sinto emprestada e, até mesmo, doada para ela por tempo indeterminado.

"Do nosso amor a gente é quem sabe, pequena..."
   
     

20 maio 2011

Consumistas Medianas.



Algumas pessoas costumam fantasiar relacionamentos. Querem fazer de todos eles a mesma história de amor. Querem agir em todos eles da mesma maneira... Como mocinha romântica em trama de novela.

Chegam até a desconsiderar completamente o fato de que pessoas bem diferentes, com gostos, pensamentos, momentos e objetivos diferentes, podem cruzar o nosso caminho. Conhecê-las ou não, vivê-las profundamente ou deixá-las de lado, é uma escolha em que poucos se dão o trabalho de pensar.

Minha mãe e eu não concordamos em certas compras. Estamos na prateleira dos frios e ela avista uma etiqueta laranja ou vermelha bem de longe, umas três seções depois. Passa por entre carrinhos, num espaço bem apertadinho, nem vê a nossa vizinha acima do peso na seção dos chocolates, chega até a largar o produto que estava vendo, só pra pegar o produto da promoção. E adivinhe: qual era o produto? Um ralador de batatas em formato de estrelinhas! Eu, curiosamente, pergunto pra que diabos ela quer um ralador de batatas em formato de estrelinha, e ela responde toda feliz: “Minha filha, ele era de R$ 19,90 por R$ 9,90. Não é uma compra excelente?”.

Toda vez que abro o armário, está lá no fundo o ralador de batatas em formato de estrelinhas... E sabe? Na minha casa, nunca saiu uma porção de batatas em forma de estrelinhas. É, o ralador não serviu para ela, mas não há jeito de fazê-la pensar diferente. E calma... Eu sou totalmente a favor das promoções. Mas, pelo amor de Deus, comprar algo de que não precisa não é economia, é gasto!

E é assim, sem pesar, sem enxergar o meio do caminho, sem pensar... Se serve ou não, se realmente precisa disso ou não, se consegue ou não entender o manual do produto. É exatamente assim, como uma consumista mediana, que algumas pessoas escolhem entrar numa relação. E isso se torna particularmente importante quando a outra pessoa deixou bem claro que não quer se envolver. Sim, naturalmente, existem pessoas que não querem levar nada adiante, além do momento. Mas, ainda assim, a mocinha romântica quer viver essa “história de amor”. Não vê que estar com uma pessoa que encara a relação de forma diferente da que você idealiza não é uma boa compra? Não é um ganho, é um gasto. Um gasto emocional.

E não se engane... “Não, eu não sou uma consumista mediana”. Às vezes, digo, muitas vezes, há quem comece uma relação achando que está ciente, bem ciente, de tudo e nas mesmas condições. Tenta conversar a mesma língua e quando nota... Envolveu-se. E nem percebeu. O limite entre viver e envolver é muito estreito.

Sentir-se atraída por uma relação em promoção não é difícil. E não é proibido. Claro que não! Volto a afirmar: Sou totalmente a favor de promoções. Mas, vamos lá, é preciso encarar os fatos e os sentimentos da mesma forma, no mesmo patamar. Viva profundamente se a promoção é igualmente imperdível. Deixe passar se você não está na vibe de um consumismo fora da média.

Promoção que vale a pena é aquela que você usa e não se arrepende, não se apega e descarta quando não serve mais. É óbvio que é bom. Sendo assim, sempre será. Se dura pouco ou muito, depende da qualidade e do manuseio do produto.

 

06 maio 2011

Duo.


Uma das melhores combinações que já experimentei.


O Fabuloso Destino de Amélie Poulain
O Teatro Mágico

em

O Anjo mais Velho

"O dia mente a cor da noite
E o diamante a cor dos olhos
Os olhos mentem dia e noite a dor da gente"

Enquanto houver você do outro lado
Aqui do outro eu consigo me orientar
A cena repete a cena se inverte
Enchendo a minh'alma d'aquilo que outrora eu deixei de acreditar

Tua palavra, tua história
Tua verdade fazendo escola
E tua ausência fazendo silêncio em todo lugar

Metade de mim
Agora é assim
De um lado a poesia, o verbo, a saudade
Do outro a luta, a força e a coragem pra chegar no fim

E o fim é belo incerto... depende de como você vê
O novo, o credo, a fé que você deposita em você e só

Só enquanto eu respirar
Vou me lembrar de você
Só enquanto eu respirar

Composição por Fernando Anitelli
Vídeo por Farion

23 abril 2011

Fim de tarde







O pôr do sol me deixa uma sensação diferente. Fins de tarde são sempre nostálgicos para mim. Acho que quando o sol se vai, leva com ele uma parte de mim para os outros e traz a energia dos outros para mim.

A luz vai aos poucos mudando de cor, como luz cênica no início de um espetáculo teatral. Eu posso sentir o frio na barriga que dá nas coxias. Acho que é o vento. O vento costuma ser brisa nesse momento. Bate no seu rosto como quem quer te acordar lentamente para não perder a cena. O som das ruas soa até mais tranqüilo, muito embora o trânsito continue o mesmo. Parece que aquela correria de todo o dia se acalma e entra no mesmo ritmo do mar. Sim, eu realmente ouço o barulho do mar, mesmo estando a quilômetros de distância. Pra mim, tudo isso é um cenário só: a luz, o vento, o som, o mar.

É precisamente nesse momento que eu penso em voltar para casa quando estou na rua, quando estou em viagens. Eu lembro que, ainda criança, eu ficava horas observando da varanda o momento exato em que minha mãe apontava no início da rua, voltando do trabalho. Eu a esperava sempre. Descia, correndo, para dar aquele abraço. Eu sentia uma saudade dela. Todo dia fazia sempre igual.

É mais ou menos por volta das cinco... Eu me lembro das antigas amigas, um velho amor ainda e sempre, e de todas as reuniões de trabalhos que sempre terminavam na varanda (É, eu gosto tanto de varandas!), freqüentemente discutindo se aquele olhar dele hoje tinha alguma coisa a mais, ao som de The Corrs, no fim de tarde.

É nessa hora que eu quero encontrá-lo só para abraçar forte e dizer como eu gosto de cookies. Lembro de coisas engraçadas e chego até a rir novamente sozinha. Ali, estática, presa em minhas lembranças dinâmicas. O que as pessoas estão fazendo no exato momento em que eu estou pensando nelas?

É no fim da tarde que eu quero sair sem destino, sem rumo, querendo encontrar o que o sol levou de mim. E é nesse exato momento que eu costumo enviar mensagens de texto, fazer ligações e visitas inesperadas. Então, se seu celular tocar nessa hora ou se eu aparecer de surpresa... Já sabe, é a saudade. Saudade de fim de tarde.