03 outubro 2010

Me dê um abraço.



"When you hold me like you do
It feels so right
I start to forget
How my heart gets torn..."
(David Gray) 



08 setembro 2010

Traficante de Sentimentos

A vida é agora. E você ai parada com a mão no queixo, olhando o movimento das pessoas, sem participar de nada, esperando que alguma coisa aconteça, uma surpresa, algo que interrompa esse estado de inércia que você se colocou. Tá me entendendo?
Sim. Eu sei como é. Ele aparece do nada, convidativo, sedutor e você seria capaz de não querê-lo? Claro que não. E acaba sendo guiada pelo instinto, pelo menos dessa vez você se permite entrar no jogo, sem racionalizar de mais, pra ver e pra sentir o gosto da insensatez. É tudo muito bem feito, um enredo bem amarrado, escrito sob medida para a próxima trouxa. E ele começa a desenvolver as cenas, cheio de mentiras que agradam que talvez até ele mesmo acredita no que diz, tão pobre e mesquinho esse rapaz... Não há coração de mais ninguém nessa história. Acredite, o único coração aqui é o seu, O Grande Troféu. Esse é o objetivo, conquistar você só pelo prazer estúpido de te mal tratar, fazer sofrer, você é o motivo das gargalhadas dele, uma piada, esse é um legítimo Traficante de Sentimentos, um gângster afetivo amoroso, um filho da puta que nem pra canalha serve, patife, um mau caráter abaixo do nível do cafajeste.
Ha, sim... Por que o cafajeste é um enganador, egoísta. O canalha é um cara que quer curtir a vida, sem enganar ninguém. Já um Traficante de Sentimentos não. É mais cafajeste do que canalha, um pilantra também, mas com requinte de crueldade, um sádico amoroso profissional, um ser inconstante e totalmente indefinido, que fica ali te consumindo como um parasita asqueroso, alimentando você só de migalhas onde não há crédito para as emoções, é pelo prazer e mérito de poder dizer batendo no peito com seu ego todo inflado: “Ela é apaixonada por mim.”
Não adianta se iludir é fato, isso existe e eles estão ai no meio deles, dos outros, procurando quem será a factível vítima dessa loucura sórdida, é disso que ele se alimenta. Não fica ai parada não garota, vê se aprende, entra na dança e só deixe o seu coração na mão de quem pode.

"A vida é agora, aprende. Ainda outra vez tocarão teus seios, lamberão teus pêlos, provarão teus gostos. E outra mais, outra vez ainda. Até esqueceres faces, nomes, cheiros. Serão tantos. O pó se acumula todos os dias sobre as emoções". (Caio Fernando Abreu)


03 setembro 2010

Dos filmes e livros


Adoro os filmes e os livros que simplesmente não terminam.
Não os que continuam na versão 2, 3 ou O retorno. Não. Mas aqueles que não têm um final, seja ele feliz ou triste. Aqueles que te permitem cogitar os seus possíveis finais.

E não ter um final feliz não significa que as pessoas não estavam rindo na última cena, que Veronika tenha morrido ou que a menina má e o bom menino não tenham sido felizes juntos. Porque o interessante é não ter a certeza do fim. É não saber se depois do reveillon, eles vão ficar juntos ou se Capitu traiu ou não traiu Bentinho.

O interessante é não terminar no ponto final. É simplesmente colocar mais dois pontinhos e transformar tudo numa reticências. E depois, podem aparecer algumas vírgulas, travessões, interrogações. E até mesmo, podem ter alguns pontos. Mas que eles sejam ponto continuando. Até porque nesses tipos de livros e filmes é difícil colocar um ponto final...

E cá entre nós, grandes finais não seriam nada sem um incrível início.

"Comprovei que tudo que já foi escrito sobre o amor é verdade. Shakespeare disse: "as buscas terminam com o encontro dos apaixonados". Que idéia maravilhosa!! Pessoalmente, eu nunca passei por nada parecido com isso. Mas estou convencida de que Shakespeare já. Suponho que penso no amor mais do que deveria; me admira o grande poder do amor em alterar e definir as nossas vidas. Shakespeare também disse que o amor é cego. Isso sei que é verdade.
Para alguns, sem explicação, o amor se apaga. Para outros o amor se vai.. ou brota quando menos se espera, mesmo que seja só por uma noite. No entanto, existe outro tipo de amor. O mais cruel... aquele que quase mata suas vitimas. Chama-se "amor não correspondido". E nesse tipo, sou experiente. A maioria das histórias de amor falam das pessoas que se amam mutuamente. Mas, o que acontece com os demais? E as nossas histórias? Aqueles que se apaixonam sozinhos? Somos vítimas de uma relação unilateral. Somos os amaldiçoados dos amantes, somos os não amados. Os mortos vivos, os deficientes sem estacionamento reservado..."

Abertura de O amor não tira férias

Um romance com tudo para ser piegas, mas não.
E sabe? Não importaria...
"Eu gosto de coisas piegas."


06 agosto 2010

Entre o mistério e o conforto

Há quem diga que “a paixão é o risco advindo do mistério do outro, enquanto que a intimidade é o conforto que a transparência oferece”. Que pensamento incrível! Não tinha, até agora, visto por esse ângulo. Poderia, então, existir um risco confortável? Um conforto arriscado? Ou ainda, um mistério transparente? Parece um tanto confusa essa coexistência, como se fossem dois corpos diferentes obedecendo às leis da física.

Pensa-se logo numa evolução: quando todos os mistérios já foram desvendados e tiver passado, diante do desconhecido, toda aquela euforia e curiosidade iniciais (Bem fascinantes, diga-se de passagem!), eis que vem a calmaria. O distante se torna próximo, os segredos se tornam claros. E o novo já não é tão novo assim. As atitudes e os pensamentos já conseguem ser quase previstos, afinal se conhece o suficientemente bem para isso. Deu-se lugar à segurança, à certeza, ao conforto. E como é bom sentir-se assim! Íntimos, confidentes, cúmplices. É tão bom que nem se percebe quando o conforto vira comodismo, quando a intimidade invadiu a individualidade. Conheceu tanto que não há mais o que se descobrir e deixou-se conhecer a tal ponto que não sobrou espaço para surpreender, para ser surpreendido. E assim, perde-se o interesse, perde-se a emoção.

Se o mistério é fascinante, a intimidade é confortável e a ideal coexistência entre eles seja de difícil execução, então que, ao menos, um não venha se apropriar definitivamente do lugar do outro. Defendo a livre alternância: oras misterioso, oras transparente; umas vezes íntimo, outras apaixonante. Prefiro a arte de redescobrir o outro todo dia, de redescobrir-se todo dia. E quando se pensar que já conhece bem, que seja instigado a encontrar algo novo. Porque ninguém é estático. Quando se achar que reconhece todos os “eus” existentes dentro de si mesmo, que surja mais um... só pra contrariar. Só pra que você mesmo se surpreenda e possa, de fato, renovar-se para os outros.

Mas se, ainda assim, insistir em questionar: o mistério ou o conforto? ... Confesso uma leve inclinação pelo primeiro... gosto de correr riscos.

22 julho 2010

A galera do Posto

 
Sexta-feira.
- Qual a boa de hoje?
Esticar depois do trabalho ou da faculdade... Ir para um barzinho, reunião na casa dos amigos, dançar música eletrônica, pegar um cinema, ir para o posto.
Para o posto?!
Na verdade, não precisa nem esperar até a sexta. Uma noite de quinta (entenda como quiser) no posto é mais do que badaladíssima.

Vários carros estacionados. Não, estacionados não, aglomerados. Porque lá não tem essa de resguardar o direito do outro de movimentar o seu carro quando não tiver mais afim de ficar. Não. Se quiser ir embora antes, com muito carisma e sorte, - É meu bem, com o tempo você percebe que carisma e sorte são fun-da-men-tais nessa vida ;) - você pode até conseguir que os donos dos três carros parados atrás se sensibilizem e abram espaço.

Sempre reparei, no caminho para casa, que havia uma reuniãozinha no posto de abastecimento. Queria até diminuir a velocidade e esticava o pescoço para ver a movimentação, mas não via nada demais que me fizesse parar ali. Um dia desses, enquanto comia no Subway mais próximo, eu observava a galera do posto...

Um carro pára. Desce uns garotos de 18 a 19 anos (imagino eu), de vez em quando carregando um de 17. Camisa pólo, jeans moderno e tênis com todo um desing especial. Abre o porta-malas e, então, surge um daqueles sons pancadão que a última finalidade é ouvir dentro do carro.

"Roda, roda com o copo na cabeça."

Outros carros vão parando em torno do som e a festa vai, aos poucos, se formando. Descem mini-saias, saltos 12, botas cano longo, decotes, plumas e paetês.
E se outro carro chegar com um som também pancadão?
Pronto... está aberto o concurso de som mais alto.

De um lado:
"Tentativas em vão, tentar tirar você do coração..."
Do outro:
"E vai descendo, descendo, perdendo a linha devagar e vai subindo, subindo, ela não pára de dançar..."

Uma festa eclética. Uma briga de egos.

Sons, pessoas (da terceira década também, é só olhar com boa vontade para um cantinho que se percebe logo eles ali, marcando presença)... Faltando só as bebidas para a festa ficar completa. Aí é que entra em cena as famosas Deli, delicatessen dos postos, suprimento para qualquer festinha de posto.
Pronto. Se joooga.

Não sei se é só um esquente para depois sair todo mundo junto para uma boate ou se a noite vira por ali mesmo.
Mas queria entender...

Por que ficar em pé a noite inteira, totalmente produzidos, apertados num posto, enquanto rola um som de carro sobrepondo o outro, pagando bem mais caro pela bebida?

Interrogação.

29 abril 2010


INSTANTES

“Se eu pudesse novamente viver a minha vida,
na próxima trataria de cometer mais erros.
Não tentaria ser tão perfeito, relaxaria mais,
seria mais tolo do que tenho sido.


Na verdade, bem poucas coisas levaria a sério.
Seria menos higiênico. Correria mais riscos,
viajaria mais, contemplaria mais entardeceres,
subiria mais montanhas, nadaria mais rios.

Iria a mais lugares onde nunca fui, tomaria mais
sorvetes e menos lentilha, teria mais problemas
reais e menos problemas imaginários.


Eu fui uma dessas pessoas que viveu sensata
e profundamente cada minuto de sua vida;
claro que tive momentos de alegria.
Mas se eu pudesse voltar a viver
trataria somente de ter bons momentos.

Porque se não sabem, disso é feita a vida,
só de momentos; não percam o agora.
Eu era um daqueles que nunca ia a parte alguma
sem um termômetro, uma bolsa de água quente,
um guarda-chuva e um pára-quedas e,
se voltasse a viver, viajaria mais leve.

Se eu pudesse voltar a viver,
começaria a andar descalço no começo da primavera
e continuaria assim até o fim do outono.
Daria mais voltas na minha rua,
contemplaria mais amanheceres
e brincaria com mais crianças,
se tivesse outra vez uma vida pela frente.


Mas, já viram, tenho 85 anos e estou morrendo.”

Jorge Luís Borges

14 abril 2010

Vá aonde seu coração mandar.


      Vá aonde seu coração mandar. Um nome bem sugestivo, ainda mais agora, pensava ela. Antes de colocá-lo no seu criado-mudo e fazer dele a distração de algumas noites seguintes, a menina se pôs a pensar na fiabilidade das decisões tomadas pelo coração.     
      Sim, incomodava-lhe a idéia de que, concluída a leitura ou até mesmo antes, fosse irremediavelmente convencida disso. Não que ela seja (ou deseje ser) de toda racional. Não, isso não passava nem perto daquela misteriosa menina. Quer dizer, só às vezes como um pensamento rápido em reposta a um momento prévio totalmente emotivo. Mas, o binômio razão-emoção nunca a confrontara tanto como ultimamente e a possibilidade de decidir por uma, seja ela qual fosse, a deixava ainda mais inquieta.
     Não apenas pelo Pequeno Príncipe (começo melhor não poderia ter! – afirmava ela toda entusiasmada), mas logo lá estava ela aprovando as preferências da Olga: “Tinha lábios finos como você bem sabe, nunca gostei de pessoas de lábios finos.” Gostava da narrativa e algumas frases lhe soavam muito bem... os guarda-chuvas, os fogos, o acaso, a liberdade.
     A certo ponto da leitura, quando mais da metade das páginas já tinham sido viradas, ela percebia que talvez não fosse apenas uma questão de aprovação. Mais que isso! Era como se uma parte dela (a mais curiosa e desatinada!) se encontrasse ali, em meio a algumas palavras...

“Ao longo do percurso, deparamos com as outras vidas: conhecê-las ou não, vivê-las profundamente ou deixá-las de lado, só depende da nossa escolha do momento.”
“... sabia abordar os mais intrincados assuntos com a mais absoluta simplicidade. (...) As coisas eram ao mesmo tempo estranhamente leves e intensas.”
“A novidade, num primeiro momento, é sempre assustadora; para conseguir sair do impasse, é preciso superar tal sensação de medo.”

     E não foi ela mesma quem já disse: “Se o novo me fascina, eis que me satisfaço”?! A essa altura, ela já sabia que havia um espelho, meio fosco, bem na sua frente e julgava que tudo isso teria sido feito, intencionalmente, por quem lhe entregara, naquele início de noite, uma embalagem prateada.
     “O bom senso era completamente contrário a tal decisão, e ainda assim tal decisão era mais forte que qualquer bom senso.” É, a menina já não tinha mais dúvidas. Chegou a fechar o livro, decidida a não mais ler... Mas, como podia? Havia esquecido que era a sua parte mais curiosa que estava envolvida?
     Chegou à última página e o final, deixando espaço para se cogitar os seus possíveis finais, agradou-lhe como já era de se esperar. Foi inevitável não se perguntar: Deixar-se levar ou não para onde o coração mandar? Sabe... ela achava tão pequeno que a razão viesse se apropriar definitivamente da emoção, ou vice-versa.
     - Por que não oras emotivo, oras racional? – dizia num tom ousado.
     Mas realmente não havia um misto de sensações contraditórias maior do que ela e, quer saber, ela não abria mão disso! Não era de se limitar. E quando a criticavam: “Quem confia no próprio coração é um insensato”... Logo a resposta lhe vinha na ponta da língua:
     - Então, que a vida me proporcione pequenas doses de insensatez! “Se não me houvesse deixado levar, acabaria envelhecendo e morrendo sem saber o que uma mulher pode experimentar.”
     É... ela era assim, insensata, a menina.