23 abril 2011

Fim de tarde







O pôr do sol me deixa uma sensação diferente. Fins de tarde são sempre nostálgicos para mim. Acho que quando o sol se vai, leva com ele uma parte de mim para os outros e traz a energia dos outros para mim.

A luz vai aos poucos mudando de cor, como luz cênica no início de um espetáculo teatral. Eu posso sentir o frio na barriga que dá nas coxias. Acho que é o vento. O vento costuma ser brisa nesse momento. Bate no seu rosto como quem quer te acordar lentamente para não perder a cena. O som das ruas soa até mais tranqüilo, muito embora o trânsito continue o mesmo. Parece que aquela correria de todo o dia se acalma e entra no mesmo ritmo do mar. Sim, eu realmente ouço o barulho do mar, mesmo estando a quilômetros de distância. Pra mim, tudo isso é um cenário só: a luz, o vento, o som, o mar.

É precisamente nesse momento que eu penso em voltar para casa quando estou na rua, quando estou em viagens. Eu lembro que, ainda criança, eu ficava horas observando da varanda o momento exato em que minha mãe apontava no início da rua, voltando do trabalho. Eu a esperava sempre. Descia, correndo, para dar aquele abraço. Eu sentia uma saudade dela. Todo dia fazia sempre igual.

É mais ou menos por volta das cinco... Eu me lembro das antigas amigas, um velho amor ainda e sempre, e de todas as reuniões de trabalhos que sempre terminavam na varanda (É, eu gosto tanto de varandas!), freqüentemente discutindo se aquele olhar dele hoje tinha alguma coisa a mais, ao som de The Corrs, no fim de tarde.

É nessa hora que eu quero encontrá-lo só para abraçar forte e dizer como eu gosto de cookies. Lembro de coisas engraçadas e chego até a rir novamente sozinha. Ali, estática, presa em minhas lembranças dinâmicas. O que as pessoas estão fazendo no exato momento em que eu estou pensando nelas?

É no fim da tarde que eu quero sair sem destino, sem rumo, querendo encontrar o que o sol levou de mim. E é nesse exato momento que eu costumo enviar mensagens de texto, fazer ligações e visitas inesperadas. Então, se seu celular tocar nessa hora ou se eu aparecer de surpresa... Já sabe, é a saudade. Saudade de fim de tarde.