27 novembro 2011

Sensações sonoras.

Minha flor, meu bebê.

Sem pedir licença, nem bater na porta. Assim nos são os sons. Não pedem para entrar, eles simplesmente nos invadem. Ousados não? Aperte o play e experimente tampar os ouvidos... Garanto que não é o mesmo que fechar os olhos quando não se quer ver. Ainda que de ouvidos tampados, escuta-se algo. Eles são tão decididos! Não têm hora para chegar – a menos que venham do despertador – e nem escolhem ocasiões. Ou será que escolhem? Alguns tons caem tão perfeitamente bem a certas situações que chego a imaginar que deve existir um DJ, ou melhor, um grande maestro regendo a orquestra de cada um de nós.

Deve existir sim uma ponte entre os sons e as sensações. Uma ponte feita pelas experiências individuais vividas. Como não associar determinado som à lembrança de um momento ou pessoa marcante? Como apenas escutar e não sentir a música? Ao passar pelos tímpanos, o som, como um estímulo sensorial que é, deve fazer alguma conexão nas emoções do sistema límbico para só então desembarcar na memória do córtex cerebral. Só pode.

Odeio o som do meu despertador. E é um sentimento tão forte que ao primeiro toque, antes mesmo que os meus olhos se abram, as minhas mãos se movem rapidamente pelo criado-mudo, derrubando o que estiver pela frente, numa busca desesperada pelo botão de desligar. Tocar mais que três segundos me traz uma tristeza e irritação profunda. Não sei como as pessoas conseguem usar tanto a função “soneca”. Se eu acordar cedo e de muito mau humor, pode ter certeza que eu demorei a achar o despertador nesse dia. Colocar uma boa música para despertar-me seria um desastre. Toda vez que a ouvisse casualmente, associaria à sensação péssima do despertador.

Adoro o som das minhas mensagens de texto. Sou capaz de reconhecer os toques que já usei e associá-los às pessoas remetentes mais frequentes da ocasião. Ouvi-los é permitir ser invadido pela sensação incrivelmente boa que acompanha o som de que alguém está pensando em você naquele exato momento – por favor, só não lembre a desilusão que é “ser lembrado” pela sua operadora telefônica. Mas, o fato é que ninguém permanece trocando mensagens com quem não gosta. Ninguém se permite associar um som que provoca boas sensações com alguém não igualmente bom. Não deveria, pelo menos.

Tocando em frente me lembra das manhãs em que meu pai me acordava ao som do violão. Talvez, até a própria escolha dos estilos musicais preferidos deva sofrer alguma influência direta dessa ponte sensorial feita pelas experiências anteriormente vividas. O que me faz gostar de um som e você de outro? A música provoca sensações variadas e não há de ser o acaso a determinar se alguém vai ser meio sertanejo, bossa nova ou rock’n’roll. Cada um faz o seu próprio show e escolhe o repertório pelo felling. Amizades e romances têm trilha sonora. Decepções também têm. E há quem queira se afundar ainda mais na fossa de uma separação ouvindo sem parar a música do primeiro encontro... Dá pra acreditar? Pelo amor de Deus, coloca um funk e pronto.

Os passos dançam conforme a música da vida que cada um sente. Vai ficar sentado, ouvindo a música tocar e vendo a vida passar? Pede o tom. Entra no ritmo que te embala. Permita-se ouvir, sentir, dançar. Não se esqueça de viver o seu musical.