Algumas pessoas costumam fantasiar relacionamentos. Querem fazer de todos eles a mesma história de amor. Querem agir em todos eles da mesma maneira... Como mocinha romântica em trama de novela.
Chegam até a desconsiderar completamente o fato de que pessoas bem diferentes, com gostos, pensamentos, momentos e objetivos diferentes, podem cruzar o nosso caminho. Conhecê-las ou não, vivê-las profundamente ou deixá-las de lado, é uma escolha em que poucos se dão o trabalho de pensar.
Minha mãe e eu não concordamos em certas compras. Estamos na prateleira dos frios e ela avista uma etiqueta laranja ou vermelha bem de longe, umas três seções depois. Passa por entre carrinhos, num espaço bem apertadinho, nem vê a nossa vizinha acima do peso na seção dos chocolates, chega até a largar o produto que estava vendo, só pra pegar o produto da promoção. E adivinhe: qual era o produto? Um ralador de batatas em formato de estrelinhas! Eu, curiosamente, pergunto pra que diabos ela quer um ralador de batatas em formato de estrelinha, e ela responde toda feliz:
“Minha filha, ele era de R$ 19,90 por R$ 9,90. Não é uma compra excelente?”.
Toda vez que abro o armário, está lá no fundo o ralador de batatas em formato de estrelinhas... E sabe? Na minha casa, nunca saiu uma porção de batatas em forma de estrelinhas. É, o ralador não serviu para ela, mas não há jeito de fazê-la pensar diferente. E calma... Eu sou totalmente a favor das promoções. Mas, pelo amor de Deus, comprar algo de que não precisa não é economia, é gasto!
E é assim, sem pesar, sem enxergar o meio do caminho, sem pensar... Se serve ou não, se realmente precisa disso ou não, se consegue ou não entender o manual do produto. É exatamente assim, como uma consumista mediana, que algumas pessoas escolhem entrar numa relação. E isso se torna particularmente importante quando a outra pessoa deixou bem claro que não quer se envolver. Sim, naturalmente, existem pessoas que não querem levar nada adiante, além do momento. Mas, ainda assim, a mocinha romântica quer viver essa “história de amor”. Não vê que estar com uma pessoa que encara a relação de forma diferente da que você idealiza não é uma boa compra? Não é um ganho, é um gasto. Um gasto emocional.
E não se engane...
“Não, eu não sou uma consumista mediana”. Às vezes, digo, muitas vezes, há quem comece uma relação achando que está ciente, bem ciente, de tudo e nas mesmas condições. Tenta conversar a mesma língua e quando nota... Envolveu-se. E nem percebeu. O limite entre viver e envolver é muito estreito.
Sentir-se atraída por uma relação em promoção não é difícil. E não é proibido. Claro que não! Volto a afirmar: Sou totalmente a favor de promoções. Mas, vamos lá, é preciso encarar os fatos e os sentimentos da mesma forma, no mesmo patamar. Viva profundamente se a promoção é igualmente imperdível. Deixe passar se você não está na vibe de um consumismo fora da média.
Promoção que vale a pena é aquela que você usa e não se arrepende, não se apega e descarta quando não serve mais. É óbvio que é bom. Sendo assim, sempre será. Se dura pouco ou muito, depende da qualidade e do manuseio do produto.