04 junho 2016

A Lua não me traiu!


E

u nunca fui de ler horóscopo. Sempre achei um rótulo muito estereotipado. “Libriano, libriana, cuidado com o excesso de trabalho. Hoje você terá uma grande surpresa no amor. Cor da sorte: lilás.” Como assim todas as pessoas de libra estão trabalhando demais e terão surpresas amorosas no mesmo dia? Vão sair todos de lilás nesse dia? Não, não dá.

Hoje continuo não lendo horóscopo e entendo bem pouco do assunto, aliás, quase nada – inclusive, os entendedores que me perdoem, caso eu fale alguma bobagem. Mas, numa das minhas idas à praia como de costume, acabei num barzinho diferente do que normalmente frequento. E todas as vezes que eu fui nesse lugar (eu disse todas), tive uma experiência bastante curiosa que vai desde um papo bem agregador sobre relacionamentos abertos até uma reunião mística de meninas na areia com direito a topless e garrafa misteriosa. Deve ser a energia do lugar, só pode.

Pois bem, numa dessas vezes, conheci algumas meninas que entendem bem de signo solar, ascendentes, lua, vênus, marte e outros termos astrológicos. Entendem tão bem a ponto de ser uma informação bem preciosa o signo do cara que se está conhecendo na balada. Eu, por exemplo, não saberia o que fazer com essa informação. Elas sabem predizer mais ou menos a personalidade das pessoas a partir disso, do mesmo jeito que o meu pai consegue discorrer a personalidade das pessoas a partir de fotos e grafias. No mínimo, bastante curioso.

Obviamente, eu quis saber o que os astros diziam sobre minha personalidade. A única informação que eu, principiante, sabia era meu signo solar. Disseram que a principal característica do canceriano é ser muito emotivo e dramático. Putz! Tinha coisinha melhor não para ser? Logo eu que sempre me achei bem ponderada? Ou eu não conheço nada de mim mesma – o que não deixa de ser uma possibilidade – ou essa parada de signo não tem nada a ver, como eu sempre achei. Das duas, uma. Mas, logo acrescentaram que o signo solar era muito pouco para se definir. Era preciso saber a posição de outros astros e isso dependia do horário em que nasci.

Assim que voltei, procurei a certidão de nascimento, entrei no site indicado e digitei lá: 02/07/1988 às 06h15min. Resultado: Câncer com o ascendente em Câncer. Não, alguma coisa deu errado, claro! Será que calcularam os anos bissextos? Como assim ser duplamente canceriana??? Emotiva em dobro, dramática em dobro, sentimental em dobro, fantasiosa em dobro. Tem condição de ser uma pessoa dessas? Não, definitivamente não tem. Mas, sim, de acordo com os astros, eu sou câncer com ascendente em câncer, queira eu ou não.

Ainda que bem desiludida e desanimada com os astros, já cantarolando: “quando o segundo sol chegar para realinhar as órbitas dos planetas...”, continuei a explorar o resultado e vi que no momento em que nasci, a lua estava em Aquário. Lá vai eu procurar saber como são as pessoas de lua em aquário. Seria, porventura, mais uma característica a triplicar o meu suposto sentimentalismo? "Não, eu não suportaria!" - disse eu, já ensaiando e sendo tomada pelo do ar de dramaticidade que me é atribuído.

“Lua em aquário prefere preservar-se emocionalmente e lida melhor com situações em que tenha liberdade de pensamento e expressão. Sente-se bastante desconfortável com rotinas excessivas, monotonia, padrões pré-estabelecidos e relações afetivas opressoras ou dramáticas.


Yes!!!! Finalmente alguma coerência dos astros, algum realinhamento das órbitas. Isso talvez explique eu ter passado meia hora rindo sozinha da criança de aquário do vídeo. É, Joelma do Calypso, a Lua não me traiu! E agora se alguém, despretensiosamente, perguntar qual o meu signo, a minha resposta será a mais completa possível, dentro do meu singelo conhecimento: Câncer com ascendente em Câncer, mas - don’t worry! - a Lua é em Aquário! Porque a primeira oração é bem constrangedora para ser simples e a segunda é importante demais para ser omitida... vai que a pessoa entende e acredita nessas coisas, né? Nunca se sabe.

02 junho 2016

Mas e Se...?

As coisas são do jeito que elas devem ser. Não há motivos para lamentar um Se qualquer. Não haveria outro jeito de se viver isso, não dentro da nossa realidade. Esse Se, que remete à dúvida, incompletude, lamento etc... “Ah! Mas Se ele...” Não, não quero ouvir. E nem vou carregar essa mágoa do destino de achar que as coisas deveriam ser diferentes, porque sei o que o Se, na sua infinita margem de possibilidades de transformar tantas ideias em possíveis realidades, poderia ser sim bem cruel. Logo, lamentar por uma realidade inexistente iria eu não ficar feliz pelo que tenho? Fico feliz sim, fico feliz pelo encontro.

Há quem não entenda o que acontece e que vive a se perguntar: qual é a real ali? Olhe... confesso que passei muito tempo me fazendo a mesma pergunta, questionando inclusive que espaço da minha vida você poderia ocupar, ao ponto de me causar certo incômodo do quanto tem se tornado importante. Mas pra explicar a quem se pergunta e pra me consolar eu vou me apropriar de uma a frase de Montaigne: "Porque era ele, porque era eu..” Mais claro, simples e completo, impossível.


Hoje me atrevo a afirmar que existe amor, não do jeito que as pessoas esperam e nem no formato de uma paixão fulminante. De algum jeito é amor. Um pouco longe de ser uma história tipo Emma e Dex, eu gosto de comparar um pouco com eles, mas só até aquela cena do telhado (risos). Gosto da inexplicável conexão que existe entre esses dois amigos.

Talvez as coisas mudem muito agora, ou não. “Mas e Se agora...” shiiii... Deixa, eu não quero ouvir. Talvez eu chore as pitangas e ouça meia dúzia de músicas, aquelas que eu gosto de ouvir para fazer tudo parecer mais dramático. Talvez as coisas continuem do jeito que sempre foram ou até melhorem, as possibilidades do Se vão se configurar realidade na hora certa, só sei que hoje o mundo está exatamente onde ele deveria estar. Por hora, o que eu posso dizer é só o que desejo agora: “Seja feliz onde quer que fores, mas se por acaso não possa me levar pela mão, me leve no seu coração e se por acaso não possa no seu coração me levar, me leve no seu lembrar.” (sim, eu parafraseei Ferreira Gullar bem feio kkkkk).


Filme: Um dia (2011), Direção: Lone Scherfig.