"Recém-casados, dois jovens procuraram um casal de velhinhos, de mais ou menos 80 anos, que moravam juntos em cima de um monte, bem distante, há muitos anos.
- Qual o segredo para uma união durável? - perguntaram os jovens.
- Pega uma águia macho e ela, uma águia fêmea. Quando trouxeres as águias, eu digo o segredo a vocês. - disse o velhinho.
Os jovens saíram floresta a dentro na tentativa de conseguir capturar as aves. Tempo depois, eles retornaram todos arranhados, sujos e com as águias. Subiram o monte e as entregaram para o velhinho. Este amarrou uma águia a outra e as soltou. As águias alçaram vôo juntas. Mas, só alcançavam três metros de altura. E depois, retornavam para o chão.
O velhinho, então, inteligentemente revelou: Para alçar vôos maiores, elas precisam estar soltas."
Hoje, há poucas horas, meu mestre-pai me agraciou com esse conto chinês, logo após eu afirmar o quanto eu acredito na importância da individualidade num relacionamento. Que maravilha! Ser como uma águia... - disse a ele, como quem acabara de descobrir algo.
Não penso em metades.
Metade da laranja, do limão ou meio copo de vodka. Não!
Eu sou um inteiro. E sempre quis outro inteiro.
Até porque é assim que o outro se vê também, é assim que se sente e assim que se quer viver.
Entende que o outro precisa estar junto, mas também estar só. E que juntar nem sempre é prender, na maioria das vezes, não o é. Que não se anda de mãos dadas sozinho, mas que as suas duas próprias mãos pode fazer muito mais do que se pode imaginar. E que, pra isso, é preciso desentrelaçar dedos, soltar-se, desatar-se. E então, vê que mais que duas, existem quatro mãos. E entende que ser carregada para cruzar a porta do apartamento novo é tão confortável quanto se pensa (e tão romântico também!). Mas que, portas maiores exigem alçar vôos maiores. E para chegar mais longe, é necessário caminhar com as suas próprias pernas, sem lenço e sem documento, num sol de quase dezembro. Por que não?
Não quero me ver apenas como a soma de metades.
Mas, dois em um. E também um em dois.
Quem não consegue viver bem consigo mesmo, fica ali amarrado a uma falta existente em si que só ele mesmo pode preencher. Ninguém mais. Enquanto não se auto-completar, ficará sempre em busca de metades externas que ensaiam a sua própria identidade.
Certas coisas que há em mim são inegociáveis.
Certas coisas que há em mim são inegociáveis.
E a individualidade, dessa eu não abro mão.