28 setembro 2011

Água ou Calor?

De Alphaville. Por Emmerson Nogueira.


“(...) Some are like water.
Some are like the heat...”

Já reparou nessa música? Faz-me pensar, entre tantas outras coisas, sobre a água, sobre o calor, sobre as pessoas.

A água lava, dissolve, sacia, refresca.

Pode ser uma garoa. Chega devagar, leve, contínua. É até convidativa, parece não oferecer perigo. Deixa a sensação de poder ser encarada sem pressa, sem maiores riscos. Às vezes, não se consegue vê-la. Talvez um rastro de luz consiga revelar os pingos finos, pequenos, aparentemente inofensivos. Mas, se realmente estiver nela, não se engane. Sempre irá senti-la, ainda que se permaneça por pouco tempo. E, de repente, pode se transformar num temporal. É uma enchente. Inunda tudo, inclusive você. Tão forte que pode intimidar, desestabilizar. Exige coragem. No máximo, pensa-se em passar por ela bem rápido, correndo. Muito embora, a física garanta que isso só irá molhar ainda mais. A gente vê, a gente sente. Quer matar a sede. E deixar-se molhar. E permitir-se beber. De fora para dentro. Provoca arrepios. Faz tremer.

O calor? O calor seca, aquece, irradia, derrete, ferve.

Condensa o ar, protege do frio, quebra o gelo. Pode ser suave como os primeiros raios de sol que nasce numa manhã fria. Esquenta o corpo. Acorda a alma. Um dia quente incomoda. Uma noite quente... nem tanto assim. É transferível. Dois corpos em equilíbrio apresentam a mesma quantidade de calor. Algumas horinhas a mais, já não é tão agradável. Torna-se intenso, a ponto de nos fazer suar, de queimar. Deixa marcas. É o suor de dentro para fora.

Tento, sem grandes sucessos. Não consigo me identificar com apenas um. Diga-me se consegue? Num instante, pode-se estar frágil como uma garoa. Logo em seguida, estar forte como um temporal. Pode aquecer. E pode queimar. Pode beber da água e depois transformá-la em suor. Receber um balde de água fria e depois trocar calor. Chover e aquecer.

Por que ser? Ser parece tão estável, tão previsível. Se assim fosse, penso que os relacionamentos intra e interpessoais seriam mais fáceis. Ainda bem que o verbo To Be permite a tradução Estar. Estar água e estar calor. Inundar-se e secar ao sol. Só pra molhar novamente. E recomeçar o ciclo natural da água, caminhar pelo ciclo natural da vida e não deixar de estar forever young.