09 agosto 2011

Despedidas.




Ainda pequenininha, uma frase, especificamente, intrigava-me bastante. Não muito raro, a autora da frase era a minha mãe - já devo agradecê-la pelos memoráveis exemplos cotidianos. Eu estava lá, em prantos, toda vermelhinha. Chorar sempre me deixou com o rosto bem corado por horas, mesmo depois de ter parado há um bom tempo. Quando, então, ouvia:

- Pronto! Já acabou. Agora engole o choro!

E ela falava num tom estranhamente forte e frágil. Forte para educar, frágil por duvidar. Parecia que queria me convencer de algo que nem ela mesma acreditava que era possível de se fazer.

- Engolir o choro? Como vou engolir o choro? – eu replicava entre soluços, tentando deglutir as lágrimas que descontroladamente insistiam em descer.

Para minha mãe, engolir era parar. Para mim, engolir era engolir e pronto. O meu questionamento sempre fazia a minha mãe sorrir, não sabia me explicar como se engolia o choro. Eu, por minha vez, ficava contente por tê-la deixado rindo sem respostas. Planejadamente ou não, o fato era que, consequentemente, ela me fazia parar de chorar, rindo.

Pra falar a verdade, eu sempre fui chorona. Mas, apenas experimentei a verdade daquela frase quando me deparei com as despedidas. Há sensação real mais perturbadora que a de uma despedida? Despedidas são, por si só, nostálgicas. Pensa-se em tudo que está ficando, que não foi na bagagem, que não entra na sala de embarque. Em tudo que vai deixar o gosto, deixar as fotos, deixar a memória. E pra desmoronar tudo mesmo, há sempre alguém que na hora relembra a Canção da América.

Foi ai que eu descobri que frases feitas não são apenas frases conotativamente feitas, força de expressão. Em despedidas, eu, literalmente, engulo o choro acompanhado do nó da garganta que dá quando se está partindo. Os sons não se articulam em palavras. O ar não passa junto ao engolir. E o que é deglutido parece estacionar no meio do caminho. Congestiona, comprime, estreita tudo em volta. E é exatamente ai que eu sinto denotativamente a força do aperto no peito que dá a saudade.

Então, já sabe, não se despeça de mim.

Eu não sei engolir tudo. Fica o gosto, ficam as fotos, o silêncio, a memória.

Sou uma boba. Choro em despedidas.



9 comentários:

  1. Você é uma boba! Uma boba linda!
    Despedidas também me apertam o coração...
    ainda mais qnd me despeço de vc!
    Nunca se esqueça que se há uma despedida, haverá sempre um reencontro!
    Pense nele sempre!

    Te amo, minha chorona.

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  2. owwnttt.. só pq vc conseguiu quase me fazer chorar com esse seu textinho viu?! adoro muitooo e realmente concordo com cello e tento sempre pensar no reencontro! :) te amoo amiga linda!!

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  3. Mais boba do que eu que choro em despedidas, é a minha galega ai em cima que quase chora só de ler sobre despedidas!

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  4. hihihihih.. #).. quase choro mesmo não vou mentir para agradar..hihih

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  5. ai que lindo!!! me tocou profundamente, talvez pelo fato da minha mãe também usar sempre esse termo e eu nuca ter entendido (só vc pra me explicar agora...) e também pelo fato de eu estar numa fase de despedida... despedida dos bons momentos da faculdades, das pessoas querias e depois disso despedida de todos que eu amo!

    fazer chorar não vale kkkk

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  6. Ownnn Mila... a intenção não foi fazer chorar. Imagino bem esses seus dias de despedidas. Com certeza na sua, vou ter que "engolir o choro". Gosto muito.

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  7. essa sensação de coração apertado que só a despedida tem... dói tanto!! e de fato essa frase "engula o choro" é top pras mães, um clássico!

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  8. Carlinha,
    Como não chorar em despedidas, até eu não consigo segurar as poucas e raras lágrimas!!!

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  9. Carlinha, depois de ler o texto posso dizer que o intervalo (que não é pouco kkkkkk) entre um paciente e outro gera uma "explosão de inspiração"!! Parabéns Filhona!! Adorei "finalmente" ver o blog!!

    Ahhhh, só pra dizer que me liguei nessa parte: "Chaves sempre a faz rir com a mesma intensidade". kkkkkkk

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