Há quase três anos, eu
falava sobre "voltar ao ar". Estava prestes a mudar de cidade e a
possibilidade de dividir aqui as novas experiências que estavam por vir me
deixava esperançosa quanto a superar os meus curiosos blackouts de criatividade. É, não foi bem assim que ocorreu... tudo o que tenho dessa tentativa frustrada são vários textos
incompletos. O tempo foi implacável.
Certa vez, disseram-me que a vida não é uma corrida de
cem metros, mas uma maratona. Que não se pode correr sempre em tiros desde a largada, mas é preciso guardar energia para conseguir alcançar a faixa de chegada. Que fantástico! Acho que Renato Teixeira pensou nisso quando escreveu: "Ando devagar porque já tive pressa...". Mas, eu somente experimentei essa verdade nos últimos três anos. Hoje,
retomo esse ponto aqui insensato de mim que deixei de lado em razão de uma corrida especialmente longa que alcancei a faixa de chegada nesta semana. Um ciclo importante
na minha maratona profissional, mas eu diria maratona da vida porque o que aprendi foi
além.
M
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orar no Rio sempre me pareceu bastante poético: “Encontro você ali no calçadão de Ipanema na altura da Vinícius de Moraes.” Vai
dizer que não? A princesinha do mar, Urca e Praia Vermelha. O Cristo tem os
braços abertos sobre a Guanabara. Sim, a Rua de Laranjeiras satisfeita sorri
quando se chega ali. A lua parece deserta nas pedras do Arpoador. E do Leme ao
Pontal realmente não há nada igual. Tudo palco da velha bossa e de tantos
outros sons. Tudo aqui soa mar, recita poema e respira calor. E que calor! Como
diria um professor: estudar no Rio 40° é para os fortes. Não, não há como discordar.
Em dias que aquela sensação térmica está de torrar os miolos, a praia é tão
convidativa até para os que não são tão fãs dela – imagina pra mim que sou fã? E
já diria outro “amigo meu”: Um dia frio é que é um bom lugar pra ler um livro.
O que não é nem um pouco o caso daqui a qualquer dia do ano.
O encontro com a Ortodontia foi lindo e
suado, literal e metaforicamente. O conhecimento está, de fato, lá do outro
lado do túnel Rebouças, longe do mar, bem mais no “de Janeiro” do que no Rio.
E, foi ali mesmo, no “de Janeiro”, que o Rio me deu o que ele poderia me dar de
mais especial, num cenário bem menos global que o de Manoel Carlos, na confusão
do dia-a-dia, no sufoco de uma dúvida, na dor de qualquer coisa. O Rio me deu
doses diárias de gente, gente como a gente. Cariocas que me receberam como se
eu já fosse um deles há muito tempo. E até não-cariocas, que nem estava tão
longe geograficamente assim, mas que decidiram viajar mais alguns quilômetros
para deixar o meu RJ mais lindo. A bagagem que volta é maior do que a chegou.
Conhecimento e saudade pesam muito, bem mais que os 23 quilos da classe
econômica. Preenchem a alma e apertam o coração. Sim, Gilberto Gil tem toda
razão, o Rio de Janeiro, assim mesmo, como todas as palavras que o nome tem,
continua lindo.
De volta ao ar de vez.
"...Hoje me sinto mais forte, mais feliz quem sabe, e só levo a certeza de que muito pouco eu sei, eu nada sei...".
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